sábado, 21 de abril de 2012

Matchbox Twenty: uma caixa de fósforos fora do comum!

Os limites entre arte e entretenimento são confusos e, muitas vezes inexistentes; mas, mais ou menos convencionado que artistas são pessoas mais preocupadas em exteriorizar seus sentimentos, falar de e para a alma, enquanto os profissionais são pessoas a serviço das vontades mais superficiais do grande público.

Por isso, mesmo o álbum de estreia do grupo Matchbox Twenty soe tão urgente e objetivo. Mais que uma ocasional reunião de doze músicas, “Yourself Or Someone Like You” soa como uma afirmação pública de que apesar da correria em busca de novos mercados, ainda é possível encontrar um som com uma rica e verdadeira identidade.

Produzido no ano de 1996 por Matt Serletic (responsável também por sucesso de bandas como Aerosmith e Collective Soul), o disco revela-se transparente em relação às suas intenções, deslavadamente agitado e, às vezes até romântico. O lançamento da música de trabalho na época, “Push”, fez a banda estourar em todas as rádios do mundo inteiro. Seguindo o mesmo caminho, mais três singles, lançados nos Estados Unidos, obtiveram o mesmo sucesso. Foram eles: “3 AM”, “Real World” e a balada “Back 2 Good”.

Influenciado por Elvis Costello, Van Morrison, Ani Di Franco, James Brown, Elton John e Al Greene, o vocalista Rob Thomas parece não ter medido esforços, nem criatividade na hora de compor o disco. Mas, apesar das grandes influências musicais, o que percebemos é que na hora da composição a identidade foi o que pesou (e por que deveria ser diferente?). Talvez por isso mesmo brasileiramente falando o cd se intitule “Você Mesmo ou Alguém Como Você”. Melhor dizendo, é como Rob Thomas, Paul Doucette, Brian Yale, Kyle Cook e Adam Gaynor se despissem de suas próprias feições e, se mostrassem completamente brutos e, ao mesmo tempo refinados através de suas músicas.

Apesar da similaridade sonora entre uma música e outra, o que percebemos é que “Yourself Or Someone Like You” possui em suas entrelinhas um coquetel musical profundamente adjetivado. Basicamente o primeiro trabalho do grupo é alicerçado na vivência do vocalista. Isto pode ser evidenciado na maior parte das canções da banda. Para termos uma ideia do que estamos falando (ou melhor, escrevendo) peguemos como exemplo a música “Push” (talvez o maior sucesso do grupo).
A canção “Push” é um rock que a princípio soa suave e melódico. Mas, na verdade não é bem isso que deseja passar. Apesar de começar de maneira lenta, “Push” se revela ao decorrer das cordas da guitarra e da força da bateria bastante agitada. Sem falar nos gritos raivosos de Thomas: sempre prontos a explodirem aos quatro ventos.

A forma como é tocada e, principalmente interpretada não é por acaso. A ideia é realmente mexer e aguçar as opiniões diversas. Digo isso com base em declarações ouvidas na época do lançamento do álbum.  Para quem não sabe, “Push” relata um relacionamento amoroso de Rob Thomas no qual ele foi totalmente manipulado, controlado por uma mulher. Naquele momento, muitas pessoas ficaram horrorizadas com a música quando ela começou a tocar nas rádios norte-americanas, pois pensavam que ela expressava a violência física, quando na verdade ela estava mesmo era mostrando a violência emocional que muitos de nós passamos, mas nem sempre temos como demonstrar.

Mas, nem só de “Push” vive o Matchbox Twenty; além dessa, merecem destaques também a agitada “Long Day” (sem falar dos berros soltos ao longo da música que são um charme à parte!), o som da enigmática “Busted”, a encantadora balada “Kody”, a relaxante “Hang”, e a apaixonante “Shame”. Com tanta competência e belo entrosamento, esta grande caixa de fósforos musical conseguiu alcançar em seu trabalho de estreia um resultado harmonioso, refinado, feliz e, à sua maneira, moderno em sonoridade. Não é por acaso que o sucesso de “Yourself Or Someone Like You” foi 8 vezes disco de platina só na Austrália, 5 vezes platina na Nova Zelândia, 4 vezes platina no Canadá, e disco de ouro na Irlanda e Indonésia. Isso sem falar que venderam mais de 7 milhões de cópias no mundo inteiro.

Com tantos pré-requisitos não deveria ser tão raro um disco digno e agradável assim.

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